Nas
religiões do Livro[1]
observar e praticar a palavra escrita é fundamental para se ter uma vida de fé
e de seguimento do Deus vivo. Marcos no seu evangelho escrito por volta de
67-70 da e.C.. nos aponta um legado através de uma pergunta: Quem
é Jesus? Ao debruçar-se em Mc 1,1; 15,39 podemos encontrar uma entre
inúmeras respostas inquietantes. Podemos também discernir e afirmar de modo
contundente que Jesus é Senhor, Compassivo, Libertador, Amigo, Sonhador,
Amoroso e Acolhedor.
Na liturgia desse ano de 2015 ele –
Marcos – aparece como nosso catequista e luzeiro para uma vida pessoal e de
comunidade cheia de desafios. Pode-se pensar qualquer coisa do cristianismo:
estudá-lo, criticá-lo, absolvê-lo, excluí-lo mais não se pode penetrar no âmago
da vida cristã sem uma autêntica formação bíblico-catequética e, sobretudo, sem
uma espiritualidade
do caminho. Seguir o homem Jesus (Mc 10, 46-52), como o fez o cego
Bartimeu ou o “louco” da obra de Erasmo de Roterdam ou o coxo, a prostituta,
enfim, qualquer um (uma) pode ser um grande desafio à nossa liberdade e, é
dessa disposição que estamos muito carentes. Estamos cansados de ouvir falar em
“vida de santidade” sem uma autêntica relação com a Palavra e a Vida.
Marcos é claro quando exige
seguimento (Mc 8, 31-38; ) e rechaça a luta pelo poder no grupo dos primeiros
seguidores e seguidoras de Jesus. Na liturgia, na catequese – vista de modo
catecumenal[2]
– nas pastorais sociais, nas Comunidades de Base nas diversas tarefas da vida
da comunidade é impossível amadurecer na fé sem uma profunda vivência da
Palavra. O cristianismo não sofre quando seus seguidores e seguidoras são
perseguidos e martirizados. Sofrem as comunidades com a ausência de propostas
formativas. Despedaçam-se quando muitos (as) fiéis assumem cargos e tarefas sem
a menor preparação eclesial. Sem uma visão ampla da vida e dos problemas que
passam os pobres e sofredores (as). Sofre a espiritualidade do caminho
quando se aumenta em demasia as adorações nas comunidades e o aspecto
emotivo/subjetivo assume todo o rosto da vida missionária. Sofre o Povo de Deus
(LG 2º capítulo) quando a sua religiosidade é excluída em nome de um
“liturgismo” inconseqüente e infrutífero. Precisamos com urgência redimensionar
nossas prioridades de trabalho. Carecemos de luzes para abandonar práticas
conservadoras – na pastoral – e que só visam à manutenção da mesmice. Marcos
pode ser valioso em 2015 porque o cansaço é imenso e a letargia pode nos
arrastar para uma perda ainda maior de “fiéis conscientes”.
Observamos que em muitas de nossas comunidades
falta um gosto expressivo pela leitura orante da Palavra. Marcos é exigente
nesse traço: 1, 35-39 e/ou 4,1-9. Pode-nos oferecer alternativas. Não vemos em
curto prazo vida cristã transformada e transformadora sem uma autêntica leitura
popular da bíblia[3].
Causam aritimia certas celebrações que vemos sem vida, sem luz, sem catequese.
Dói no âmago constatar que existe – apesar do clamor do papa Francisco – uma
igreja estática e que perdeu o ímpeto da saída. Com o aumento do Islamismo na
África e na Europa, com a incidente subida do número de evangélicos na América
Latina e Caribe[4],
pode-se enxergar alguma comunidade viva e profética sem a espiritualidade do caminho? Parece-nos
que vida cristã pessoal e comunitária sem um processo de maturação eclesial e
bíblica é semelhante a um vaso de argila ofuscado e quebradiço. Não tem beleza.
Não convence. Não é capaz de gerar seguimento e, por isso, empobrece o
evangelho sem fazê-lo morrer, já que sua força mística ainda depende do
Espírito de Iahweh e não de nossas opções pastorais equivocadas.
O caminho de Jesus em Marcos está em
aberto. Não pode e nunca será concluído. Abre-se a perspectiva de um ano
diferente e desafiador. Na política, na economia, na religião, na vida das
comunidades. O melhor para nós cristãos e cristãs é não perder de vista o
modelo de homens e mulheres que se deixaram invadir pela Palavra e tornaram-se
luzeiros de esperança e de libertação.
JOSÉ
SOARES DE JESUS
Mestre em Ciências da Religião-UNICAP/PE
[1] Acenamos
aqui para as três religiões monoteístas: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo.
[2]“O catecumenato, ou formação
dos catecúmenos, tem por finalidade permitir a estes últimos, em resposta à
iniciativa divina e em união com uma comunidade eclesial, que levem a conversão
e a fé à maturidade. Trata-se de uma "formação à vida crista integral
(...) pela qual os discípulos são unidos a Cristo, seu mestre. Por isso, os
catecúmenos devem ser iniciados (...) nos mistérios da salvação e na prática de
uma vida evangélica, e introduzidos, mediante ritos sagrados celebrados em
épocas sucessivas, na vida da fé, da liturgia e da caridade do povo de
Deus" (CIC 1248).
[3] Estudo
seqüencial da bíblia com o método do CEBI. Pode ser trabalhado em grupos e
comunidades.
[4] O
acento dado no artigo para o aumento de fiéis na religião evangélica e islâmica
não apresenta um perfil fundamentalista com foco para disputa numérica. Quer
somente alertar para a diminuição crescente da prática confessional em algumas
igrejas históricas como: Católica, Luterana, Batista e outras. Para clarear
mais o tema sugerimos ler: http://fteixeira-dialogos.blogspot.com/2010/04/o-catolicismo-no-brasil.html.
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