sábado, 24 de março de 2012

CHICO BRASILEIRO

A riqueza do Brasil transcende nossas fronteiras e quando se trata de futebol, cultura e carnaval ai ninguém consegue prever a beleza do nosso povo.

Nesses últimos meses tem-se discutido com intensidade na imprensa e nas redes sociais as ingerências da FIFA no que tange a aprovação das leis da Copa do Mundo 2014. Para nós, parece absurdo uma instituição de credibilidade questionada impor condições a um país soberano. É um absurdo. Vergonhoso, indecente, desqualificada essa pretensão e a mordaça do governo também. Mas hoje nosso tema é indelével e não perderemos tempo com “detalhes”.

Queremos falar um pouco sobre “Chico Brasileiro”, Chico Sonhador, Chico de Paula e do Ceará, Chico da Alegria e do Humor o Chico Anísio, a nosso ver insubstituível.

Nossa geração que acompanhou desse “moleque” o Chico City não pode deixar de prestar homenagem a esse artista fantástico. As palavras não conseguem qualificar a magnitude desse brasileiro que criou mais de 200 personagens de humor. No mundo cheio de paradoxos, guerras, tragédias e grandes desafios, o Brasil de Chico é reverenciado e reconhecido pelo seu talento. Talento da alegria, talento de “Chico Brasileiro”.

No portal da Tv Cultura saiu uma homenagem ao grande Chico. Anos e anos de dedicação ao humor e uma profunda exaltação do nosso nordeste que, mesmo sofrido teve esse filho nobre.

Foram 65 anos atuando na arte de entreter, e mais de 200 personagens.Fernando Faro, apresentador do Ensaio, diz que ele pintou o Norte e Nordeste. “Ele eternizou essas figuras”. De Maranguape/CE para o mundo! Foi assim que aconteceu. Um artista que foi ator, escritor, dublador, compositor e pintor. Apresentou quadros na televisão que até hoje estão na memória dos brasileiros[1].

Chico Anysio extrapolou o Brasil. Sua “Escolinha” detonou índices de audiência dentro e fora do país. Nos últimos quarenta anos nada e ninguém relacionado ao humor superou a magnitude de Chico.

Em junho de 1993, Chico Anysio participou do Roda Viva. No programa ele explicou por que investiu na ‘Escolinha do Professor Raimundo’. “A Escolinha é o programa de humor de maior audiência no mundo ocidental! Não é? No mundo ocidental! Isso que a gente não inclui a China, porque tem muita gente, a Índia, não sei o quê e tal. Mas no mundo ocidental, a Escolinha tem uma média de quarenta pontos num universo de trinta milhões de televisores, que são doze milhões de televisores, mas com três pessoas por televisor, dá trinta e seis milhões de telespectadores. O segundo lugar é do Bill Cosby [comediante, ator e produtor de televisão norte-americano de muito sucesso[2].

Num país aonde a cultura do desmando e da corrupção se impôs desde seu descobrimento, Chico de Paula soube até na ditadura tripudiar e cutucar o General João B. Figueiredo mostrando-lhe a inconformidade do povo brasileiro com a mordaça imposta no Brasil. Caminhávamos para o fim da ditadura e pelo teatro, televisão e em outros palcos a sabedoria de Chico e de outros brasileiros (as) ajudou nossa gente a superar dor, tristeza, revolta e amargura. Quantos personagens inesquecíveis: Coalhada, Alberto Roberto, Nazareno, Jovem, Justo Veríssimo, Bozo,  todos eles recheados de irreverência e alegria.

Quando ainda hoje os quadros aparecem na TV sentimos a presença de Chico nos comunicando a si mesmo. Resta-nos recordar agora um texto do apóstolo Paulo, que como cristãos creio que cabe colocar na vida e no bem que Chico fez. “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: Alegrai-vos” (Fl 4,4)[3]. Descanse em paz Chico Anysio. Deus o acompanhe. Que nós brasileiros aprendamos dele a lição da alegria, da inteligência refinada e da crítica sutil.











DEUS AGE NA HISTÓRIA DO SEU POVO

O 4º domingo da quaresma nos presenteia com uma bela certeza: “Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho único” (Jo 3,16). Trata-se de um alento maravilhoso descortinar essa máxima do evangelho joanino, escrito no final do primeiro século. O texto que continua a passagem do encontro de Jesus com Nicodemos balança nossas estruturas que só falam em condenar, expor, julgar, excluir e afastar.

Nossa condição humana não pode se afastar desse encontro com a palavra e a palavra nos dá condição de ir ao encontro de nossos desejos e motivos mais abscônditos, pois ela – a Palavra – nos revela quem somos. A proposta não é de buscar um Deus escondido nas amarras da perseguição e sim procurar minunciosamente na história de seu povo como Ele age libertando e salvando (2 Cr 36, 22-23).

Algumas questões nos interpelam: numa sociedade marcada por tanta violência, como podemos enxergar à ação divina? É possível falar em Deus e construir uma nova história com tragédias oriundas do preconceito e até da opressão religiosa? Como explicar a atitude do sargento americano que matou 16 pessoas (crianças) no Afeganistão? Certamente não queremos nesse artigo apresentar soluções imediatistas e sim esboçar um caminho de reflexão.

“Nabucodonosor deportou para Babilônia todos os que tinham escapado à espada, e eles se tornaram seus escravos, dele e de seus filhos, até o advento do domínio persa” (2 Cr 36,20). Esse fato ocorreu por volta de 587 a.C. Em pleno séc. VI depois de Jeremias ter alertado tanto o povo experimentou a desgraça. De novo a escravidão e a opressão. O profeta avisou tanto, não adiantou. Ora, Ciro fez renascer a esperança e por volta de 538 a. C., derrotou Nabucodonosor e libertou Israel. Ciro era Persa e não Judeu. Não é a violência e a impunidade que dão a última palavra. Mas sim Iahweh. Ele age na história, quebra paradigmas incestuosos e violentos; Ele tocou o coração de Ciro. É Iahweh quem dá a sentença final. Gostoso ouvir e crer nessa “profissão de fé”. O Senhor caminha com seu povo. 

As tragédias podem ter às vezes relação com a questão religiosa. Porém depende de como a interpretamos. A religião não pode ser e não é o fim em si mesma; ela abre possibilidades. Jesus foi capaz de construir um projeto novo a partir de uma matriz religiosa sem explorar, sem matar, sem condenar e sem oprimir. “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna (Jo 3, 14-15).

E ainda, esses acontecimentos que envolvem guerras e interesses espúrios não devem influenciar o caminho da compaixão pregado por Jesus. Afegãos ou Iraquianos; Brasileiros ou Venezuelanos ou qualquer outro povo, com sua arte e beleza, dores e júbilo, com sua religião e seus traços culturais não podem conviver com tanta opressão. É injusto demais, uma dor insuportável. Para nós cristãos ou muçulmanos o amor de Deus não se impõe através de um tanque bélico mas sim pela solidariedade. Se fosse nos E.U.A., como eles reagiriam? Será que deixaria o algoz sem julgamento? Lembremo-nos do acidente entre o Legacy e o avião da Gol. Teve algum americano julgado? É condenar o justo com base na iniqüidade é o mesmo que torturar Jesus numa fila do posto de Saúde; oi ainda numa sala de Igreja pregando o ódio e a discriminação.

Que o domingo da “luz”, da glória e da vida eterna brilhe na nossa vontade de juntar, agregar, unir e reconciliar. Esse é o rosto de Jesus, o Filho do Pai!

quarta-feira, 14 de março de 2012

PORQUE FICAR NA CIDADE?

Sábado celebraremos o aniversário da Cidade de Aracaju! O que temos para comemorar?


 
Durante nosso curso ginasial – conhecido como fundamental – aprendemos que a terra gira em torno do sol. Essa teoria precisou de tempo para ser codificada. É as coisas não são fáceis. E se aparecesse agora outra tese, afirmando que o firmamento é composto de estrelas, planetas e uma bola de gesso pintada de azul? O que pensaríamos? Ah, um absurdo. Nem tanto. Prefiro pensar no “pressuposto dialético” que a vida nos ‘impõe’. Ele nos permite trabalhar com idéias e situações antagônicas – mas não absurdas, é claro.



A descoberta da cidade no período moderno gerou grandes expectativas e mudou radicalmente a forma da convivência humana. Grandes alterações sociais trazem consigo problemas e leva o ser humano a criar mecanismos de defesa. Grandes aglomerados urbanos fazem eclodir ‘feridas’ profundas no tecido social. A ‘urbis’ do latim, lugar onde se enterra o umbigo foi e é, o lugar geográfico e poético da vida. Vida livre, alegre, e frenética. Se, apresentamos antes os motivos para sair da cidade, queremos agora, de forma ‘dialética’ mostrar outro viés. É a tentativa de polemizar e criar poeticamente um caminho inverso. Mais esperançoso menos tenso e acolhedor. Então, eis os motivos para ficar na cidade:



*Formação profissional: na cidade as oportunidades são maiores porque o avanço de novas tecnologias acabou criando postos de trabalho mais qualificados. Qualquer função hoje no comércio, na educação, na indústria usa a computação. A corrida pela terceirização, também tem sido fonte de emprego – para o antigo “Estado inçhado” – claro que com suas perdas. Tudo se multiplica na cidade. Ela encanta. O problema reside em não sonhar demais. Ela ajuda a colocar os pés no chão.



*Lazer e cultura: quem nunca foi a um Shopping Center. É um sonho de transcendência. Neles, tudo se compra. Tudo nele é encantador. Quem não se opõe a sua sedução acaba no S.P.C. E o que dizer dos cinemas e salas de Teatro? Da apresentação folclórica dos grupos regionais, do futebol nos domingos à tarde? Estabelecer relações de amizade e de paquera. A cidade ajuda a cultivar romance.



*Encontros e desencontros: nela se dá perdas irreparáveis. Mas nada melhor que o tempo, para curar e trazer de volta o desejo de ficar na cidade.

*O sagrado ‘mora na cidade’: inquieto com tantas interrogações, o homem e a mulher de hoje precisa do reencontro com o sagrado. Ele mora na cidade? Não sei. Talvez ele seja redescoberto nela. Nas suas armadilhas e na luta do excluído. A cidade é também mágica. Ela provoca a saudade do transcendente. Mexe e remexe com as convicções mais abscônditas do ser humano. Ele, o sagrado, não se impõe na cidade, não aceita o sectarismo como forma de engodo. Ele torna a pessoa mais humana e o coração compassivo. Ele sopra, abençoa, ampara e questiona. Ele faz amadurecer o que há de mais legal: o desejo de ser feliz. Viva a cidade.

sábado, 10 de março de 2012

Os Mandamentos da Vida

A proposta que trazemos para reflexão está fundamentada nos dois princípios básicos das leituras do terceiro domingo quaresmal: “interiorizar” os mandamentos e “proteger” a vida, simbolizada no templo.

Vamos mergulhar no primeiro. Os mandamentos estão colocados como caminho de vida e maturidade da fé. Olhando os três primeiros nota-se que a dimensão é “vertical”. A relação entre Deus e o ser humano se acentua. “Não pronunciarás o nome de Iahweh, teu Deus, em prova de falsidade, porque o Senhor não deixa impune aquele que pronuncia o seu nome em favor do erro” (Ex 20, 7). Deus aceita e cultiva nossa liberdade para amá-lo, adorá-lo e senti-lo presente na história pessoal e comunitária de seu povo. Ferir os mandamentos é cultivar a própria morte. O antigo testamento gosta de afirmar que ser “santo” é estar na presença de Iahweh (Lv 11,44). Trata-se de uma condição indispensável para se viver em harmonia.

De fato, o contexto cultural que vivemos é bem diverso daquele vivido pelo povo no Antigo Testamento. Porém uma lógica se impõe: a desobediência a todo tipo de lei e mandamento tornou-se uma regra perigosa e mortal na nossa sociedade. Que pena, perdemos o rumo da vida e da liberdade.

Todo texto do Êxodo 20, 1-17 nos coloca diante de uma escolha. Quando o ser humano se sente acuado diante do sofrimento, da tragédia e de qualquer outra situação inimaginável ele recorre a Deus como se o Senhor estivesse fora dele. Parece que os mandamentos são extrínsecos. Só servem para corrigir o desastre. Até Israel pensou assim durante muito tempo. Não, nada disso, coragem, a lei que nos torna livres e prontos para o bem é intrínseca (Jr 31,33).

O segundo é proteger a Vida. Durante muito tempo imaginamos Jesus como um profeta amoroso e dócil. Ele cura, liberta do demônio e realiza milagres. Só isso denota pouco conhecimento do verdadeiro Messias. Jesus é o defensor da Lei do Amor. Defensor da Vida em todas as suas formas. Para Ele, ofender e oprimir o outro é motivo de fúria e desencanto (Jo 2, 19-21). A religião pregada por Jesus não fica abstrata no Templo e nas estruturas humanas; ela perpassa nossa capacidade míope de enxergar os pecadores de toda sorte. Para nós perdidos, para Ele encontrados. Vida, liberdade, justiça, perdão, solidariedade e misericórdia são os mandamentos de Jesus. Ele vive e os incute no coração dos discípulos (as) de ontem e de hoje (Mt 5,20).

O caminho quaresmal da Igreja é apresentar o mistério de Jesus para que a humanidade se aproxime dele e sinta a força da sua cruz e ressurreição. Por isso, caminhemos, adiante e juntos (as) sintamos que Ele é o “templo” e, nos unidos a Ele cultuamos a verdadeira vida.

domingo, 4 de março de 2012

SUBIR A MONTANHA

SUBIR A MONTANHA

Domingo é dia de descanso e festa. Dia de conviver com os amigos (as) para recobrar as forças do corpo. Mas também devemos “ouvir” à Palavra e deixar-nos conduzir por ela obedecendo ao Deus da Vida.

Nesse segundo domingo quaresmal (04/03) o apelo das leituras pela obediência põe em contraposição os abusos de uma sociedade hedonista e consumista que prega e impõe o “ter para poder” rasgando a liberdade e o caminho da felicidade que está no respeito ao outro e a própria vida.

Vamos ao texto da leitura de Gn 22, 1-19. Muitos chamam essa passagem de o sacrifício de Isaac. Gostaria de lembrar que não. O sacrifício, pelo contrário é de Abrãao. Iahweh pede-lhe o filho único e ele dá. A dor e a angústia são de Abrãao. Ele é o protagonista de uma decisão questionável mais profunda e inevitável: obedecer ao Senhor. Na obediência de Abrãao a humanidade resgata o valor da escuta, da primazia do amor e da imolação que depois os padres da Igreja verão nela, o próprio sacrifício de Jesus.

Porém, o que significa de fato “obedecer”? Parece que essa virtude caiu em desuso. O latim nos ajuda. “Ob-audire”. Não é simplesmente ouvir e disfarçar um aprendizado ou um conselho, ou até mesmo uma noção. Para nós cristãos, significa “escutar de dentro a partir do coração”. Não se trata de uma tarefa exterior e sim interior, pautada na liberdade e na disciplina, evitando a subserviência que não amadurece e cria traumas terríveis. Escutar e bendizer o Deus do Amor que nos fala pela história, pela alegria, pela dor e, sobretudo pelo seu “Filho amado” (Mc 9, 7b).  

O Novo catecismo nos ajuda: “Obedecer (“ob-audire) na fé significa submeter-se livremente à palavra ouvida, visto que a sua verdade é garantida por Deus, a própria Verdade. Desta obediência, Abrãao é o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe e a Virgem Maria, sua mais perfeita realização” (CIC, 144).

Agora temos mais clareza da relação entre Obediência-Palavra-Fé. Elas não se excluem. Por isso, devemos subir a montanha. E Marcos nos conduz hoje a uma experiência incomensurável de “escuta”. Ele – domingo escrevi que é muito conciso – nos apresenta Jesus subindo na montanha e com três companheiros. Parece que embaixo não dá para Jesus rezar. Tem muito barulho.....”os carros de som abusam demais e tocam muita tolice”, então, Jesus sobe. Moisés subiu no Sinai e de lá trouxe a Lei. Jesus sobe e de lá traz a paz, a sobriedade, a ternura, o respeito ao diferente e o mais espetacular, traz a certeza da vida na RESSURREIÇÃO. (Mc 9,9). Que êxtase e que maravilha. Subir a montanha para ser envolvido pelo Ressuscitado.

No aconchego da montanha com a brisa leve e ao lado de Jesus descer é péssimo, certo? Errado. Pedro vacilou e pediu para ficar lá (Mc 9, 5-6). Jesus em outras palavras disse que não dá é hora do compromisso, temos que descer. Tudo isso por que aqui embaixo a humanidade esqueceu-se do valor da “escuta”. E por isso encerraremos com um fato:

Se escutasse a lei do amor e a palavra dos pais o garoto da praia/Jet-sky não teria, pelo que parece, ainda não podemos afirmar taxativamente, matado a menina em Bertioga/SP. Se tivesse escutado a voz....de quem? Se tivesse sido educado a obedecer....mais obedecer a quem? A menina não teria morrido. E agora, é possível trazê-la de volta? Cremos que sim! Não deixando que o fato caia no esquecimento. Revendo atitudes. Colocando limites numa geração que se sente livre e sem medidas; e olhe, não por culpa dela, apenas. Sendo sensíveis a dor a ao sofrimento do outro, apostando numa sociedade mais ouvinte do que falante. Vamos rever nossas posições religiosas, de cunho pessoal e até familiares. Vamos subir a montanha.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Dominar os impulsos do mal

O tempo quaresmal aguça nossa inteligência e o nosso coração para colocar em ordem nossa vida cristã e os esquemas que impedem o Reino de Deus se tornar presente em nosso meio (Mc 1,15a). Parece que nesse período somos mais susceptíveis ao arrependimento e a prática da justiça.
Então, aproveitemos o tempo de graça ((2 Cor 6,1-2) para detectar alguns transtornos que afligem "nossos" cristãos e suas vidas em comunidade. Para isso, vamos usar uma sigla: TOCp (Transtorno obsessivo compulsivo pelo poder). Iniciemos por aquilo que nos faz postar essa questão. 
As paróquias - ou comunidade de comunidades, como expressa o doc. de Santo Domingo - estão passando por um momento histórico delicado. A procura imediata pelos sacramentos não representa mais a totalidade do eixo cristão. Há muito tempo os documentos pontifícios e os da Conferência da América Latina vem batendo na tecla sobre a missionariedade. O impulso missionário é o caminho "sine qua non" para que a Igreja continue viva e atuante. Não é mais dentro e nem nas cercanias do altar e por trás de vestes pomposas que iremos resgatar o núcleo da vida quaresmal. O momento é de "preparar-se" com competência, oração e destemor para enfrentar os desafios que a cultura moderna e os avanços tecnológicos nos apresenta.
O fato é que nossas estruturas e mentalidades estão paralisadas. Há muita disputa por cargos e posições na Igreja, o que infelizmente atinge a leigos, clero, seminaristas, consagrados e consagradas.
Permita-nos refrescar a memória: você que atua em comunidade tem visto pessoas do povo assumindo tarefas eclesiais? Existem relatos de profunda conversão em sua comunidade? Os mais pobres são assistidos e evangelizados? As coordenações das pastorais e dos famosos movimentos muda com frequência? O Conselho Paroquial - onde existe - é o termômetro da organização missionária ou ambiente de discussão e troca de insultos? Se das cinco questões levantadas três forem não, está na hora de "fechar para balanço". E o que se impõe é seguinte: tem mais cacique do que índio.
As pessoas tem se afastado em demasia porque um dos fatores é a disputa interna pelo poder que desequilibra a vida eclesial e impede o florescimento de uma mística profunda e arraigada no evangelho. Existem lugares onde os transtornos citados acima como base do artigo estão carcomendo a ação do Espírito. Veja Ez 37, 1-14. Mergulhe no texto, atualize-o e note a pertinência do profeta. Examine os desequilíbrios atuais que impedem a conversão das pessoas e o mesmorecimento das comunidades. E para isso, usaremos o número sete como símbolo das anomalias eclesias que nos afligem.

Primeiro: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de julgar"
Segundo: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de condenar"
Terceiro: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de caluniar"
Quarto: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder de "murmurar"
Quinto: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de esconder"
Sexto: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de coordenar"
Sétimo: Transtorno Obsessivo Compulsivo pelo poder "de mentir"

Todos eles podem ser assumidos/resumidos pelos dois últimos. A uma incapacidade espiritual das pessoas de conviver com o diferente nas paróquias e de aceitar mudança. A maioria dos cristãos que coordenam adoram o poder e fazem até pior do que os que detem os poderes temporais para não serem substituídos. Por acaso isso é missão? Essa fórmula de insensatez está nos evangelhos? Claro que não. Leia Lc 9, 51-56 (veja como Jesus repele a prepotência). Estamos afastando as pessoas do verdadeiro encontro com o Cristo Ressuscitado; e apresentando-lhes o rosto ideológico da maldade e da injustiça; rosto do autoritarismo e da maquinação "diabólica" que foi capaz de tornar amigos os dois ionimigos, Anás e Caifás, só para torturar e matar Jesus. Entre nós também não existem esses males?
Ainda há tempo na quaresma para mudar.

Por isso, vamos mergulhar no que de bom nos põe de pé. Começando pelas práticas da esmola, do jejum e da oração. Façamos das nossa pastorais lugares de encontro e acolhida. Recordamos aqui o livro de Jean Vanier, Comunidade lugar de perdão e de festa. Com os cantos e a ternura encher de carinho nossas igrejas e de afeto o coração do povo. Ressaltar a misericórdia como fonte de maturação. A lei pela lei....mata, empobrece, calunia, faz sofrer, envelhece e torna o pecador amargo e sórdido. ("Se a vossa justiça não superar...." Mt 5,20).  Misericórdia, misericórdia, beleza, amor, abrir as portas do coração para à acolhida. Nossas comunidades tem muito encanto e pessoas carentes e desejosas de ouvir  a palavra, crer na amizade, adorar o Jesus Vivo, sentir o pulsar do coração dos que sofrem. A hora é de construir e re-construir o Éden da bondade e da atração inédita pela companhia (Eva não é culpada pela maça passada; a serpente não pode ficar eternamente manchada pela maça que deu). Nada disso. Na quaresma, não vamos oferecer ao diabo a inicativa pela vida e a capacidade "eterna" de sermos livres para amar. Ainda há tempo de purificar espíritos e atitudes. Coordenar mas sem impor e sem nos colocar como uma empresa; nela o salário pode ser a entrega do companheiro para aumentar meu soldo; entre nós o único motivo da disputa deve ser o de fazer o bem. Abaixo os "transtornos" e as máscaras provocadas por uma "falsa religião" que acorrenta e oprime. Destaquemos o bem e a justiça, eles sim, acompanham a missão e a prestação de contas dos discípulos-missionários de Jesus.

              José Soares de Jesus

quinta-feira, 1 de março de 2012

DEUS NÃO AVILTA NOSSA LIBERDADE

Resolvi postar esse artigo depois de alguns meses para poder evidenciar a luta que hoje os países
ricos travam pelo domínio da tecnologia da bomba atômica. Quem está com a verdade? Quem na atualidade
está preocupado com a paz? É possível a paz em meio a pluralidade cultural e religiosa?

SEGUE O ARTIGO ABAIXO:

A política mundial é muito complexa e cheia de armadilhas. Muitos países falam em democracia, entre eles os EUA, mas tem uma penitenciária em Guantánamo/CUBA. Isso é regime democrático?
A força da democracia consiste em se defender a liberdade e entre elas, o direito a se praticar uma religião. Liberdade para se ir e vir (locomover). Liberdade para se pronunciar sobre os mais variados assuntos. Liberdade para assistir uma peça teatral ou mesmo um jogo de futebol – de preferência ver o Barcelona dá show. A liberdade é continuamente pronunciada pelos telejornais e nas conversas informais do povo em nossas ruas e cidades. Mas seria a prisão ou o Estado Totalitário o contrário da liberdade?
O mundo ocidental está atemorizado com a morte do líder coreano KIM JONG-IL. Sucessor do seu pai ele governou o país desde 1994 e era considerado um dos inimigos viscerais dos americanos e da democracia.
O interessante é que como a liberdade de imprensa era proibida no país, só a Tv do governo podia e pode divulgar notícias. Por isso, o mundo viu crianças, jovens, mulheres e homens chorando copiosamente pela morte de seu líder. Elas não seriam livres para comemorar rindo? Por que tamanha desilusão? Seria KIM JONG-IL “o deus” da Coréia do Norte? Analisemos.
O povo coreano do norte deve ter sentido sim porque a ideologia divulgada em todos esses anos era a de um homem onipresente no meio do povo. País fechado e que depois da II Guerra Mundial foi controlado pelos comunistas e a Coréia do Sul pelos capitalistas. Se o povo chorou tanto é porque existe algo de atraente lá e em comparação com “nós” do lado de cá, parece que alguns valores estavam bem alicerçados.
Um dos fundamentos o nacionalismo ferrenho e a corrida as armas nucleares. O seu jovem sucessor KIM JONG-UM é uma incógnita e tanto americanos como o resto do mundo tremem de pavor ante as decisões desse jovem inexperiente.
Seria bom lembrar que para lutar contra os Aiatolás do Irã os americanos encheram o Iraque de armas e Sadam Husseim de Poder. Ora, os desdobramentos são claros. Terrorismo luta por petróleo, ambição desmedida pelo poder imperial e a própria história mostra logo quem tem ou não razão.
Kim Jong-IL era um “deus”? Talvez para sua própria nação alimentada pelo excentrismo do seu ego. Mas do lado de cá, temos direito a religião, a falar em imprensa e a cultuar o Deus da Vida livremente. Será que está melhor do que lá?
Para os poderes e poderosos da terra uma lição fica registrada. Quando Deus intervém na história é para alimentá-la com seu amor (Lc 1, 26-38) e não pelo ódio. Do lado de cá a preparação para o Natal se processa por uma corrida neurótica em busca de consumo e festa. Isso é liberdade? Qual o país mais belo/cidade na decoração: Paris, Londres, Rio de Janeiro, Tóquio, Nova Iorque? Quem consumirá mais? Isso é liberdade? Crianças e adolescentes pedindo esmolas e muitos com fome e na completa miséria sócio-cultural e religiosa...isso é liberdade?
Os regimes todos são funestos e passageiros. Não podemos ignorá-los já que a nossa base judaico-cristã preconiza a necessidade de um Rei, um Chefe, um Salvador (2 Sm 7,1-16) e as nações um governante. A sociedade precisa ser governada e os povos de uma direção. A questão é que a troca dos valores essenciais a vida estão sendo esmagados o tempo todo no mundo. Necessitamos de liberdade com discernimento, de fé com solidariedade, de diplomacia política sem dominação cultural e sem massacre na identidade dos povos, sobretudo dos mais pobres. Precisamos urgentemente de uma consciência planetária e amorosa aonde a riqueza seja mais repartida e a presença do divino – Menino Jesus – seja acolhida sem ferir a liberdade, a dignidade e a altivez dos povos. Maranathá: Vem Senhor Jesus!

José Soares de Jesus
Pio X