Vivemos imersos numa sociedade complexa e permeada de ilusões. Nesse cenário de muita ambiguidade cresce uma certeza: tudo hoje se celebra na "
véspera".
Esse é um tarço da cultura dita pós-moderna que está tão arraigado no inconsciente do indivíduo e da sociedade que nem sequer notamos ou nos damos conta das suas consequências.
No calendário civil brasileiro são várias as festas que se esgotam na véspera. O carnaval dá início a todas elas. Quando chega na terça-feira ninguém aguenta mais tanta folia. Na véspera de feriados e até dias santos haja comemoração. Festa da máscara, da fantasia, da primavera, do "muído", etc! No ritmo que as coisas se encaminham estamos perdendo o sabor da gratuidade e da alteridade.
As celebrações de ordem pessoal e familiar também não fogem a regra. Aniversário natalício, batizados e aniversário de casamento - quando alguém se lembra - é sempre celebrado na véspera. Por quê tanta pressa? Para onde se encaminha uma sociedade que privilegia o improviso? Só o tempo nos permitirá deduzir.
Enquanto isso, devemos encontrar alternativas diferentes. No próprio catolicismo celebramos as vésperas de José, esposo de Maria (março), Pedro e Paulo (junho), Assunção de Maria (agosto), Aparecida (outubro) e até do Natal do Senhor. Talvez aqui esteja um caminho diversificado para combater a cultura superficial, mórbida e consumista do mundo. Nas vésperas dos santos e santas a Palavra de Deus aponta para uma fonte inesgotável de felicidade:
a prática do amor e da justiça. Jesus chama de bem-aventurado quem se arrisca a remar contra a corrente. A se expor frente as intempéries de uma cultura que prega a desilusão e a riqueza (Mt 5,1-12) E mais, ele enfatiza a primazia do Reino sobre a transitoriedade desse tempo (presente) e afirma que seus discípulos e discípulas devem ser diferentes:
"Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus vocês não entrarão no Reino dos Céus" (Mt 5,20).
O advento chegou e logo mais as vésperas do Natal. Pense sobre isso e não permita que os presentes oriundos de relações dúbias e interesseiras, arrebate o lugar onde o verdadeiro presente nos dignificará como cristãos e até não cristãos:
a manjedoura do nosso coração. Nele não há vésperas. Nele não há frustração alguma que impeça a realização vida da esperança (Rm 5,5) trazida pelo Messias para todos e todas, especialmente para os pastores, pobres, humildes, os manos e os sem voz e sem vez.
José Soares de Jesus